domingo, 8 de agosto de 2010

Fenômeno editorial, Lady Gaga mal completou 24 anos e já ganhou três biografias

Lady Gaga mal completou 24 anos e já ganhou três biografias. Todas não autorizadas e nenhuma ousada o suficiente para revelar o que essa condição permite. Prometem ser biografias sem censura, embora não avisem ser escritas sem nenhuma amarra quanto à bajulação e sem qualquer análise ou crítica ao trabalho da artista. Gaga é um fenômeno e isso é um fato. Milionária antes dos 30 e nascida Stefani Joanne Angelina Germanotta, está entre os favoritos do Video Music Awards 2010 da MTV, venceu dois Grammy Awards e viu suas crias alcançarem o topo das listas de mais tocadas no mundo.

Garota rica de Nova York, educada para integrar a elite norte-americana, fez um pequeno desvio do caminho previsto por seus pais, mas acabou no mesmo destino. O sucesso da cantora ao lançar músicas como Just dance, Poker face e Bad romance acabou por alimentar um fenômeno editorial que cresce na esteira oportunista do rastro das celebridades.

Lady Gaga — A revolução do pop faz parte de um mar de 17 biografias de artistas escritas pela jornalista Emily Herbert, pseudônimo de Virginia Blackburn. A autora já se aventurou pela vida de Michael Jackson, Robbie Williams e outras personalidades mais restritas ao circuito hollywoodiano local. Por lá, é conhecida como especialista em biografias de estrelas cujos lucros ultrapassam os milhões. Publicado no Brasil pela Editora Globo, o livro é mais comedido do que seu irmão Lady Gaga, da jornalista inglesa Helia Phoenix.

Fã da cantora, a autora não esconde o tom laudatório do livro. Helia garante que, quando começou a escrever, não havia outras publicações sobre Gaga. A autora não gostava de ver a cantora rotulada apenas como pop star e achou que podia contribuir para mudar a imagem da artista. Gaga, segundo Helia, reinventou o gênero pop e o transpôs para o underground. “Há alguns anos as paradas não tinham ouvido nada tão inovador quanto Gaga na música pop”, escreve. Em certos trechos, a inglesa chega mesmo a defender que a norte-americana fez o gênero decolar.

Madonna e Michael Jackson são apenas lembranças de um passado distante e referências de outro século. Inspirações para Gaga são Britney Spears e New Kids on the Block, para os quais, aliás, compôs algumas canções. Eventualmente, ela inclui ídolos como Andy Warhol e Mick Jagger, dos quais diz ter herdado o gosto pelas drogas, experimentadas como caminho para o estilo de vida “romântico” que admirava no mundo do rock. Já o figurino, que a artista hoje identifica como moda, nada mais é que fruto do desejo de ser namorada de roqueiro.

A educação em colégio de freira fez Gaga ser atenta aos detalhes. “Seu eu decidir usar um casaco vermelho no show, não é apenas vermelho. Penso: é um vermelho comunista? Um cereja cordial? Um vermelho rubi? Ou um vermelho maçã? Ou seria o vermelho de um grande balão vermelho? Quero dizer: existem tantos tipos diferentes de vermelho!”, explica.

Helia Phoenix, 29 anos, é formada em web jornalismo em uma universidade inglesa e trabalha para a Assembleia Nacional do País de Gales. Nas horas livres, se diverte com textos sobre música. A biografia de Gaga nasceu assim. Helia nunca encontrou a cantora e confessa ter colhido os depoimentos e informações para o livro na internet. Ela garante ter checado a credibilidade das informações ao reproduzir citações que classifica como fontes primárias. Talvez por isso o leitor fique com a impressão de já ter lido o livro.

Os mesmos depoimentos alimentaram Virginia Blackburn. E é exatamente na mesma ordem que eles aparecem em A revolução do pop. As duas publicações parecem traduções diferentes de um mesmo texto. Há passagens inteiras que se repetem, especialmente quando se trata das falas de Gaga. Virginia, no entanto, é menos explícita nas descrições das qualidades da cantora, embora não esconda que o livro tenha sido escrito para fãs. Nas duas biografias, há o cuidado de apresentar Lady Gaga como uma garota espetacular que chegou para revitalizar a música pop com roupas extravagantes e comportamento exótico, mas dentro dos limites do politicamente correto.

A cantora usou drogas — e declarou ainda usar em entrevista recente à Vanity Fair —, mas desaconselha os fãs a seguirem o caminho, é simpática às causas homossexuais, obedece ao pai, sempre quis ser uma celebridade e encara a fama como uma “arte”. Tudo certinho, na medida para não chocar ou desviar o público. De acordo com Helia Phoenix, Gaga tem uma “superestrela interna” como guia e sempre esteve determinada a “conquistar a América”. Não é muito diferente da maneira como Brandon Hurst apresenta sua versão da cantora em outra biografia lançada pela Madras. Também especialista em biografias não-autorizadas — Kate Moss, Scarlett Johansson, Angelina Jolie e Daniel Craig já ganharam seus volumes — Hurst segue a mesma linha das colegas. Como disse Rita Lee no Twitter : “Coitada da Gaga. As autoras são baba ovo demais. Parece que escreveram na mesma aula de inglês”.

Editora Globo/Reprodução
LADY GAGA — A REVOLUÇÃO DO POP
De Emily Herbert. Editora Globo, 240 páginas. R$ 29,90.



Lua de Papel/Reprodução
LADY GAGA — BIOGRAFIA
De Helia Phoenix. Lua de papel, 246 páginas. R$ 34,90.



google/Reprodução da Internet
LADY GAGA
De Brandon Hurst. Madras, 144 páginas. R$ 49,90.



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